Rei do Cangaço



No século XVII, ocorreu o deslocamento do centro da economia para o sul. O sertão nordestino já castigado pelo flagelo das secas prolongadas, vê agravar-se as desigualdades sociais. Neste panorama visualiza-se a figura do coronel, detentor de todo o poder e lei da região que considerava-se senhorio. A existência de constantes conflitos devido à posses e limites geográficos entre as fazendas, além das rivalidades políticas, fizeram com que estes senhores feudais, procurassem cercar-se do maior número de jagunços (vassalos dos coronéis) e cabras, necessários para defender seus interesses. Deste modo, se criaram verdadeiros exércitos particulares e verdadeiras guerras foram travadas entre famílias. Este quadro, como vemos, foi propício para o aparecimento do banditismos.

No final do Império e em seguida a grande seca de 1877-1879, a miséria e a violência eram crescente, o que viabilizou, em face da luta pela própria sobrevivência, o surgimento dos primeiros bandos armados independentes do controle dos grandes fazendeiros. Nesta época, destacavam-se os bandos de Inocêncio Vermelho e de João Calangro.

O cangaço, entretanto, só toma vulto na República, com a figura de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião.

LAMPIÃO, HERÓI OU BANDIDO? COM CERTEZA, UM MITO.

Virgulino nasceu no dia 04 de junho de 1898, no Sítio Passagem das Pedras, na Serra Vermelha, atual Serra Talhada, no estado de Pernambuco. Seus pais eram José Ferreira e Maria Sulena da Purificação e ele era o terceiro filho do casal.



Ele foi batizado aos três meses de nascido, na capela do povoado de São Francisco, sendo seus padrinhos os avós maternos: Manuel Pedro Lopes e D. Maria Jacosa Vieira. A cerimônia foi oficiada por Padre Quincas, que profetizou:


- "Virgulino - explicou o padre - vem de vírgula, quer dizer, pausa, parada." E arregalando os olhos: - "Quem sabe, o sertão inteiro e talvez o mundo vão parar de admiração por ele".

O bando do mais temido dos cangaceiros, entrava cantando nas cidades e vilarejos. Com chapelões em forma de meia lua ricamente ornamentados com moedas de ouro e prata e roupas de couro, os bandidos chegavam a pé e pediam dinheiro, comida e apoio. Se a população negasse, a cantiga cedia lugar à marcha fúnebre: crianças eram seqüestradas, mulheres violentadas e homens, rasgados a punhal. Mas, caso os pedidos fossem atendidos, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, organizava um baile e distribuía esmolas.

Na manhã seguinte, antes que os soldados da volante viessem, o bando partia em fila indiana, todos pisando na mesma pegada. O último ia de costas, apagando o rastro com uma folhagem.

Foi assim por quase três décadas. Vagando por sete Estados, Virgulino semeava terror e morte no sertão. O fracasso das operações preparadas para capturá-lo e as recompensas oferecidas a quem o matasse só aumentaram a sua fama. Admirado pela sua valentia, o facínora acabou convertido em herói. Em 1931, o jornal New York Times chegou a apresentá-lo como um ROBIN HOOD DA CAATINGA, que roubava dos ricos para dar aos pobres. O próprio Lampião, era tão vaidoso, a ponto de só usar perfume francês e de distribuir cartões de visita com sua foto. Gostava também, de entrar nos povoados atirando moedas.

Fisicamente, Lampião era um homem de 1,70 m de altura, amulatado, corpulento e cego de um olho. Adorava adornar seus dedos com anéis e usava no pescoço lenços de cores berrantes, preso por valioso anel de doutor em Direito.

Era, porém, um bandido sanguinário. Durante suas andanças, arrancou olhos, cortou línguas, e decepou orelhas. Castrou um homem dizendo que ele precisava engordar. Moças que usassem cabelos ou vestidos curtos ele punia marcando o rosto a ferro quente. Em Bonito de Santa Fé, em 1923, deu início ao estupro coletivo da mulher do delegado. Vinte e cinco homens participaram da violação.

Apesar de suas atrocidades, era religioso e trazia sempre no bornal um rosário e uma imagem de Nossa Senhora da Conceição.

A sua sanha assassina foi despertada em 1915. Virgulino contava com 18 anos quando um coronel inimigo encomendou a morte de seus pais.

- "Vou matar até morrer" - prometeu ele, cheio de ódio e desejo de vingança.

Alistou-se em um bando de cangaceiros e foi logo promovido a líder. Envolveu-se em cerca de 200 combates com as "volantes", que resultaram em um milhar de mortes. As "volantes" eram constituídas de "cabras" ou "capangas" que eram familiarizados com o sertão. Elas acabaram tornando-se mais temidas pela população do que os próprios cangaceiros, pois além de se utilizarem da violência, possuíam o respaldo do governo.

O célebre apelido, recebeu depois de iluminar a noite com tiros de espingarda para que um companheiro achasse um cigarro.

Em Juazeiro 1926, Lampião recebe do Governo a patente de Capitão honorário das forças legais, além de doação de armamento e munição para combater a Coluna Prestes. Vaidosamente, ostentou esta falsa patente até a sua morte.

Existem duas teorias para a morte de Lampião.

Em 1938 ele faz uma incursão ao agreste alagoano e esconde-se a seguir, em sua fortaleza, na Grota de Angico, no município de Porto da Folha, em Sergipe.

A polícia militar alagoana foi informada de seu esconderijo e organizou uma volante comandada pelo Tenente João Bezerra da Silva, juntamente com o Sargento Ancieto Rodrigues, portando metralhadoras portáteis, para caçá-lo.

As 4 horas da madrugada de 28 de julho de 1938, efetuaram a emboscada, que não durou mais de vinte minutos. Aproximadamente 40 cangaceiros conseguiram fugir. Lampião e 10 outros pereceram.

Após o ataque, um soldado aparece segurando pelos cabelos a cabeça cortada de Virgulino. Bezerra quis saber o motivo da macabra exibição.

-"Se não levarmos a cabeça, o povo nunca vai acreditar que liquidamos Lampião", respondeu o soldado.

Onze cangaceiros tiveram suas cabeças cortadas. Maria Bonita foi degolada ainda viva.

Morre Lampião, mas eterniza-se seu mito. Sucumbiu com ele o cangaço.

Uma semana depois do massacre de Angicos, o Corisco, o "Diabo Louro", que havia se separado de Lampião, constituindo um bando à parte, desfechou ataques fulminantes sobre cidades à margem do

rio São Francisco como vingança pela morte de seu amigo. Enviou algumas cabeças cortadas ao prefeito do povoado de Piranhas, com um bilhete: "Se o negócio é de cabeças, vou mandar em quantidade".


Maria Bonita

Maria Gomes de Oliveira, foi a primeira mulher a aparecer no cenário do cangaço. Nascida em 8 de março de 1911 (Data do dia Internacional da Mulher) em uma fazenda em Santa Brígida, na Bahia. Era filha de José Felipe de Oliveira e Maria Joaquina Déia. Tinha 11 irmãos.
Ela casou-se aos 15 anos com um sapateiro, com quem vivia às turras. Durante uma das separações de seu marido, o que era constante, Maria Bonita conheceu Lampião e apaixonou-se. Lampião, nesta época, tinha quase 33 anos e Maria pouco mais de 20. Esta paixão desenfreada os uniu até a morte.
Ela entrou para o bando ao final de 1930. Tiveram uma única filha, Expedita Ferreira,
nascida em 1932, única sobrevivente das quatro gestações de Maria Bonita,que foi criada anonimamente por coiteiros.

Em alguns momentos, a intervenção de Maria Bonita impediu vários atos de crueldade de Lampião.

Maria Bonita era a Musa e a Rainha do Cangaço e ocupava-se entre outras coisas de costurar a indumentária dos cangaceiros. Depois dela, os outros cangaceiros também trouxeram suas companheiras para fazerem parte do bando. Dizem que elas participavam de todas as atividades, inclusive dos combates. Se destacaram: Dadá, esposa de Corisco, Lídia, mulher de Zé Baiano e outra Maria, mulher de Pancada.

Lampião e Maria Bonita, formaram o casal mais unido e temido do sertão.


Fonte: www.rosanevolpatto.trd.br





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