Violeiros...





Gente é hora de falar um pouco sobre a gente também né? Esse post é dedicado em especial a todos que fazem parte da família VIOLA CAIPIRA...


As modas caipiras e o sagrado nasceram juntos nesta terra-de-santa-cruz. Dizem os historiadores que a viola foi trazida para cá pelos jesuítas, o que de início já lhe confere a aura beatificada. Desde os tempos primevos, encontrou guarida naquela gente nova que se miscigenava pela santíssima trindade racial: o índio, o branco e o negro. Nasceu assim, o violeiro em sua mais completa tradução, que de cedo aprendeu a fazer das folias, dos catiras, dos fandangos, dos lundus, dos pagodes, das toadas, dos cururus e dos cateretês uma ópera sertaneja ao Divino, à Mãe do Salvador e aos Santos do cotidiano.




Eles não obedecem aos paradigmas de uma

afinação universal, ou aos ensinamentos

institucionálizados, às medidas sonoras

controladas por diapasão, como na música

estudada. Sobretudo, não repetem uma melodia

escrita, porém a música que conservam por tradição

oral, sujeita portanto a todas as contingências do

improviso.

Na estrutura melódica que serve de fundo aos

cantares dos violeiros existem sobrevivências

advindas do período medieval, época do movimento

trovadoresco europeu. Esse movimento surgiu na

França e teve duas ramificações, uma no norte e

outra no sul, com os Trouvères e os Troubadours,

respectivamente.

Como referencial teológico destas dramatizadas melodias o caboclo adotou a visão do catolicismo oficial. Por outro lado, no entanto, suas epifanias sonoro-dançantes incorporaram, aos poucos, uma religiosidade que não ficava dependente da explicação racional de padres ou especialistas da fé. Um dos exemplos clássicos dessa devoção é a fervorosa, doutrinária e popular oração cantada e socializada pelos cururueiros paulistas. Música que foi recolhida por Paulo Vanzolini e que hoje faz sucesso com a Orquestra Paulistana de Viola:

Este é o primeiro verso que nesta casa eu canto Já desponta a madrugada Padre , Filho, Espírito Santo Ora viva São Gonçalo (...) Este é o segundo verso Que nesta casa eu canto Já desponta a madrugada Padre, Filho, Espírito Santo Ora viva São Gonçalo(...)

Várias outras pérolas deste gênero de manifestação religiosa chegaram até nós e hoje fazem parte do nosso cantorio. A Bandeira do Divino e Cálix Bento, músicas de domínio público, eternizadas por Ivan Lins e Milton Nascimento, são apenas dois exemplos. Som rural da mais pura cepa!
Mas a moda do violeiro tem o toque do sagrado porque sagrada é a vida do caipira. Coisa que souberam retratar Cornélio Pires e Angelino de Oliveira, pioneiros das modas fonográficas, em cenas lítero-musicais históricas. Sagrado é o chão onde o Jeca-Tatu pisa. Sagrado é o seu jeito de ser. É neste cenário que o profano se santifica e o sagrado se profaniza. Ele canta a sua maneira de levar a vida. Expressa bem esta harmonia paradisíaca a música “Meu céu” dos mineiros Zé Mulato e Xavantinho:

Armo a rede na varanda afino minha viola Sabiá canta comigo mando a tristeza embora No lugar aonde eu moro solidão não me amola Quando eu faço um ponteado a cabocla cantarola Não é o céu conforme eu aprendi Mas se Deus achar por bem Pode me deixar aqui

O povo da roça não tem esta pressa de viver que nós temos. Um amigo ilustrou bem: “Nós trabalhamos para comprar o que precisamos para viver depressa. Eles vivem basicamente para fazer o que precisam para viver com calma”. Na roça, seguindo o ritmo das estações, do riozinho e do eterno ciclo da natureza, tudo é devagar. Como devagar também é que se envelhecem e enobrecem, no tempo, os bons vinhos. Como devagar também é que envelhecem e enobrecem, no mato, as boas madeiras com as quais meu se faz boas violas.


Fonte: overmundo.com






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